by - 14 julho




Dia 1 de Junho de 2019 foi um dos dias mais importantes da minha vida.
Casei-me. Foi uma festa lindíssima e certamente que a minha esposa foi a noiva mais linda de sempre.
O que me traz aqui, a escrever este texto, é o tema do nosso casamento: as nossas Paixões. Ou seja, todas as facetas da nossa vida que amamos e que nos uniu como casal e nos tornou melhores pessoas. Como devem calcular, as mesas do copo de água tinham, cada uma, o nome de uma Paixão em específico, com decoração a condizer. Além disso, decidimos fazer um texto para cada mesa a explicar essa mesma Paixão, desde a sua origem até à importância da mesma na nossa vida. Esse texto era escrito na terceira pessoa, como que na perspectiva de alguém que estivesse de fora, para dar um toque de imparcialidade ao texto, visto que as ideias eram nossas, mas quem escreveu fui eu. No final do casamento, várias pessoas pediram-me para colocar os textos aqui no blogue porque gostaram imenso de os ler e achavam que era algo digno de ser partilhado com todos os que fazem parte da minha vida.
Pois bem, depois de muito pensar decidi avançar com a publicação integral dos textos que pontuaram as mesas cujas Paixões mais significado têm para mim, ou seja, as mais importantes para mim. Vou começar, claro está, pela minha Paixão mais antiga e duradoura: a Natação. Leiam, então, o texto que colocámos na mesa Natação:

Sejam muito bem-vindos, caros convidados, à celebração do matrimónio entre a nossa querida Sara e o Bruno! Como podem ver, são os privilegiados que se vão sentar numa mesa que é, naturalmente, especial para o noivo.
         A Mesa NATAÇÃO!
      Como já repararam, o tema do casamento da Sara e do Bruno são as paixões de ambos. Umas foram descobertas em conjunto, outras já vinham com um deles há vários anos e, pela convivência e pela paixão com que vivem a vida, acabaram por contagiar o parceiro. Esta paixão é, claramente, uma das mais importantes na vida do Bruno, e que se tornou também muito importante na da Sara, por ter acompanhados os últimos anos do Bruno na competição e nos treinos.
       Sabem, quando falo de paixões tão importantes para eles, até fico nervoso, porque há tanto para ser dito e contado, que não sei como resumir. A culpa é dos noivos, que me obrigaram a falar de cada paixão de forma reduzida, para não vos maçar em demasia. Enfim, vou tentar resumir, mas se não conseguir não quero saber, eles também não vão estar aqui a ler o que eu digo!
          Adiante.
          A Natação, nomeadamente a parte da competição que tanto fez parte da vida do Bruno, surgiu de uma forma inesperada e, até, simples, como se não estivesse para a acontecer a mudança mais marcante na sua vida, antes da de hoje, claro está.
           Como o Bruno é asmático, os médicos aconselharam os pais dele a levá-lo para a natação, para expandir os pulmões e a caixa torácica, de forma a minimizar os efeitos da doença crónica. E os seus pais assim o fizeram. Com poucos anos de vida, não mais do que cinco ou seis, o Bruno e a irmã entraram para a natação num clube que viria a ser o clube do coração do Bruno.
            O Clube Lisnave.
         Naqueles primeiros anos, o Bruno nadava apenas aos sábados, uma hora. Serviu para que ele aprendesse a nadar, a lidar com a água e, também, para que se começasse a distinguir pela sua velocidade quando passava dos onze anos de idade. Nessa altura, em 2002, o seu professor notou nele algo de especial. Por diversas vezes tentou que ele fosse nadar mais vezes por semana, mas a escola não o permitia. Mas esse professor não desistiu. Em outubro de 2002 ia acontecer o “24 horas a nadar”, na SFUAP, o clube que seria seu rival em breve mas que, curiosamente, foi o palco onde a maior mudança na sua vida ocorreu. O professor do Bruno convidou-o, mais a irmã, para participarem nesse evento, no final da tarde.
          Normalmente, quando o destino intervém para um grande acontecimento que é desconhecido para a pessoa que o vai viver, a história de como aconteceu costuma ser engraçada. E esta não foi excepção. Dia 19 de Outubro de 2002: o Bruno estava na festa de anos da sua melhor amiga e estava a divertir-se imenso. Jogaram à bola, no computador, na consola, estava a ser uma tarde maravilhosa. O que significava que o dia estava a passar depressa, como acontece sempre que estamos felizes e entretidos. Por isso, no que pareceu ser demasiado pouco tempo, os pais e a irmã do Bruno lá apareceram para o levar para o evento de natação. Embrenhado como estava, o Bruno disse aos pais que não queria ir, alegando que o 24 horas a nadar não tinha nada de interesse. Mas o pai do Bruno foi intransigente. Tinham-se comprometido com o professor de natação e iam cumprir o acordo. Resignado, mas frustrado, o Bruno lá acabou por ceder e partiu com a sua família, rumo ao futuro. Mas, naquela altura em que entrou no carro e abandonou a festa, o Bruno sentiu-se pessimamente.
           Mas tudo iria mudar. Chegando à piscina, começou a nadar sempre que chegava a sua vez. A certo momento, um homem aproximou-se do Bruno e apresentou-se como sendo Jorge Branco. Perguntou a idade ao Bruno e com que frequência nadava na Lisnave. Mais tarde perguntou mais detalhes sobre as suas preferências pelos estilos que nadava, levando-o inclusivamente a demonstrar a sua técnica a seguir, em algumas das vezes nadou. Ao fim de algumas pequenas conversas acabou por perguntar se o Bruno não queria entrar para a equipa de competição. Na altura, o Bruno ficou sem palavras, mas nem foi pela importância do convite que estava a ser feito. Era simplesmente porque ele nem sabia que existiam equipas de competição de natação, o que era bastante estúpido da parte do nosso noivo! O Bruno perguntou o que isso significava, ao que o Jorge explicou que treinavam todos os dias e que haviam competições em bastantes fins-de-semana. Amante do desporto já naquela idade e da natação em particular, o Bruno começou a ficar entusiasmado com a ideia. Mas tinha de perguntar aos pais.
            Aqui o vosso anfitrião lembra-se como se fosse ontem: o Bruno a sair da piscina, a caminhar pelo cais até ficar ao pé dos pais. A felicidade do Bruno a perguntar aos pais se podia ir para a competição na Lisnave, mas o facto de isso implicar treinar todos os dias fez o pai do Bruno torcer o nariz. Afinal de contas, eram mais de três horas diárias investidas nos treinos, podia prejudicar o aproveitamento escolar, que era bastante bom nele. Sem querer desistir de algo que lhe parecia bastante tentador, o Bruno chamou o Jorge e este explicou tudo melhor aos pais dele. O pai do Bruno continuava a torcer o nariz e o Jorge perguntou se não podia ficar, por exemplo, um mês à experiência e depois logo se via o que decidiam. Foi aqui que a mãe do Bruno interveio e disse que sim, tinha todo o gosto em que o filho entrasse para a competição. Afinal de contas, a Natação era o desporto favorito da mãe e o único que ela apreciava assistir. Embora ainda não muito convencido, o pai do Bruno acabou por ceder ao entusiasmo da esposa e do filho e, na semana seguinte, levou-o à Lisnave depois das aulas.
            Foi com algum nervosismo que o Bruno entrou no complexo da piscina e avistou a equipa de competição do Clube Lisnave pela primeira vez. O que viu deixou-o embasbacado. Eles eram imensos! Era uma equipa grande, com gente muito jovem e, curiosamente, estavam lá duas amigas de infância, mais precisamente da creche: a Andreia Serra e a Rita Caetano, e ainda duas irmãs gémeas que ele conhecia da Escola, a Inês e a Helena. Naquele momento ele não podia saber, mas estava a ver pela primeira vez as pessoas que iriam mudar a sua vida de uma forma inimaginável. No dia seguinte começou a treinar, começou a conhecer a sua equipa, e o resto é história. Esteve 14 anos na competição, conseguindo marcas muito boas, classificações muito interessantes e, acima de tudo, amizades magníficas. Se há coisa que o Bruno se orgulha de ter feito na sua vida, foi a de ter feito parte daquela equipa. Terminou a carreira competitiva num Campeonato Nacional de Clubes na segunda divisão, com um recorde pessoal aos 26 anos de idade. Nada mau. Até hoje, 17 anos depois daquele dia ter mudado a sua vida, ainda continua a treinar com a equipa actual, que se mudou para o CIRL após o encerramento da Lisnave em 2013. Provavelmente, agora ele irá pendurar a toca definitivamente, mas irá sempre voltar nem que seja uma vez por mês para matar saudades.
            Havia muito mais a dizer sobre este assunto. Muito mais mesmo. Foram imensos anos de convívio e treino diários com amigos fantásticos, e para o Bruno lembrar-se desses anos é ficar emocionado. Porque a Natação sempre foi um mundo à parte para ele. Era um mundo onde as preocupações, aflições ou que quer que estivesse a acontecer na sua vida, ficavam para trás das costas quando entrava naquele mundo. Inclusivamente, foi graças àquela equipa que ele conseguiu enfrentar e ultrapassar a morte da sua mãe de uma forma tão distinta e positiva. Foi graças a eles. E ele nunca o esquecerá.
            Foi também devido à Natação que o Bruno se apercebeu do quanto a sua noiva realmente gostava dele. No final de 2015, quando ambos se estavam a começar a conhecer, a Sara foi de propósito até às Caldas da Rainha, sozinha, para o ver nadar os 50 Livres no Nacional de Clubes, depois dele tanto gabar essa competição. Foi um momento extraordinário porque nunca ninguém havia feito nada assim por ele. Nunca. Ele já se habituara a não ter público na bancada para o apoiar desde que a mãe morrera, tirando uma situação ou outra, como quando o seu pai e irmã foram-no ver a Coimbra nadar no Campeonato Nacional de Juvenis, por volta de 2006.
Um ano depois, no final de 2016, naquela que seria a sua despedida da competição, a Sara foi ainda mais longe. A competição era na Póvoa de Varzim e ele ia nadar no domingo de manhã a derradeira prova da sua vida competitiva. Pois bem, não querendo perder a despedida do Bruno de algo que lhe era tão importante, a Sara apanhou um avião de Lisboa para o Porto e depois um táxi até à Piscina, só para o ver nadar uns meros segundos. O mais engraçado e fofinho foi que ela lhe fez uma surpresa: levou uma T-Shirt branca estampada com o nome do clube e duas fotografias da equipa, para que todos os colegas a assinassem e para que o Bruno ficasse com uma recordação deles para sempre. A nossa noiva é ou não é extraordinária?
Depois da competição, acabou por almoçar com a equipa e foi-se embora logo a seguir. Foi com gestos deste tipo que o Bruno percebeu que estava a namorar com uma rapariga muito especial. Era louca por ele tal como ele era louco por ela. E foi então que percebeu que não a podia deixar fugir e que tinha de a amar como nunca amara ninguém.
            Foi com a Sara que o mundo da Natação se abriu um pouco para o exterior. Ela conheceu os seus amigos, assistiu às provas dele e apoiava-o imenso. E isso é algo que ele nunca irá esquecer.
            Entretanto, contagiada pelo Bruno, a Sara pediu-lhe para que, de vez em quando, eles fossem nadar juntos para ele lhe ensinar a nadar um pouco melhor. No inverno de 2017 fizeram-nos diversas vezes e retomaram essa actividade agora recentemente.
            A verdade é que a vida dá sempre muitas voltas, e a vida do Bruno é um óptimo exemplo disso. Pelo menos teve três grandes voltas, três momentos que mudaram drasticamente a sua vida. E, agora, ele não podia ser mais feliz.
            É verdade que depois do dia de hoje irá deixar de nadar com tanta frequência devido à pouca compatibilidade de horários entre o seu emprego e os treinos, mas nunca irá deixar definitivamente a Natação. Isso é algo impossível para ele. Talvez, quem sabe, daqui a uns anos ele volte a conectar-se à Natação de outra forma, através dos seus filhos. Mas isso, só o futuro o dirá.
            Agora, meus caros convidados, o importante é celebrarem este dia maravilhoso de união da Sara e do Bruno, que tanto se amam e cujo exemplo de carinho e dedicação devíamos todos seguir.
            Divirtam-se e óptimos treinos para todos!

            SARA & BRUNO
            01.06.2019


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2 comentários

  1. Quando saem as outras composições sobre as restantes mesas????

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  2. Obrigado pelo interesse! Os próximos textos serão publicados nas próximas semanas.

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