by - 02 março




"O IDOSO MISTERIOSO" - PARTE 3/4

Com muita calma, o idoso chegou ao cemitério e entrou, de uma forma que mostrava a rotina daquela situação.
Entrei cerca de um minuto depois e o silêncio que se abatia sobre o espaço era avassalador. Apenas uma brisa abafada se fazia ouvir por entre as campas. À direita, vi o idoso aproximar-se de uma campa em particular. Uma árvore de grande porte conferia àquele espaço uma sombra abençoada, como outras que estavam espalhadas pelo espaço.
O idoso pousou a lancheira ao pé da base da árvore e ajoelhou-se ao pé de uma campa ali próxima. Começou a sorrir e deitou algumas lágrimas. Tocou com os dedos nos seus lábios, beijando-os, para depois os baixar e tocar no que eu supunha ser a fotografia da pessoa que estava debaixo de terra. A sua falecida esposa.
Senti os olhos picarem e lágrimas formarem-me nos olhos. Pisquei os olhos várias vezes para aliviar. O idoso, apesar das lágrimas e da clara emoção que sentia, continuava a sorrir e a emanar felicidade.
Durante alguns minutos, ficou a falar para a campa, mas não percebi o que ele estava a dizer. Chegou, inclusivamente, a rir-se com uma gargalhada saborosa.
Estaria o idoso maluco? Que estava eu ali a fazer? O que me levou a seguir aquele idoso que ninguém da minha idade parecia conhecer minimamente? Por que razão gastei eu horas que podia usar para ir à praia para estar ali?
Estava prestes a descobrir a resposta para tudo.
Estava prestes a ter a conversa que iria mudar a minha vida.
Mas, enquanto isso não acontecia, começava seriamente a duvidar da minha sanidade mental, muito mais que a do idoso.
Passados vários minutos, não sei se dez, quinze ou vinte, o idoso levantou-se e regressou para próximo da lancheira. Abriu-a e retirou uma toalha. Pelos vistos, ia almoçar ali. Ia fazer um piquenique. Estendeu uma toalha grande e colocou a comida juntamente com os talheres e pratos. Fiquei intrigado quando percebi que estava a pôr comida e pratos para duas pessoas.
Estaria à espera de alguém? Olhei para todos os lados, mas não vi mais ninguém. Estava a ficar demasiado calor. Concluí, então, que estaria a colocar comida para duas pessoas de forma metafórica. Como se fosse almoçar com a sua esposa.
Por um lado, achei um gesto ternurento. Por outro, voltei a duvidar da minha sanidade mental por ter decidido seguir aquele idoso.
Após um momento de impasse, percebi finalmente o que se passava. Aquele almoço era para duas pessoas, mas a segunda pessoa não era a sua falecida esposa.
Era eu.
Isto porque, subitamente, o idoso olhou na minha direcção e fez um gesto com a mão para me aproximar e me sentar ao pé dele. Ainda fiz de conta que ali estava por acaso, que não o estava a seguir, mas por algum motivo percebi que isso não iria valer a pena.
Estava com calor e com sede. Fosse o idoso maluco ou não, mal não me iria fazer. E tinha a vantagem de aproveitar a sombra e de beber um pouco de água.
Aproximei-me do idoso, que me olhou de forma divertida e me convidou a sentar. Passou-me um copo de água para mão. Estava geladinha, bem deliciosa. Bebi de um trago e o idoso, com um sorriso, encheu novamente o meu copo e devolveu-mo, para saciar a minha sede. Sentei-me a seu lado e contemplei a campa onde o idoso estivera ajoelhado a conversar momentos antes.
Seguiu-se, então, uma das conversas mais importantes da minha vida.

Continua...

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1 comentários

  1. O idoso era feliz e esperto está visto. Na expetativa da conversa reveladora....😱

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