by - 23 dezembro



Conto de Natal 2019
Há quem diga que o Natal é a época mais maravilhosa do ano e, quando Dezembro chega, até há quem agradeça a Deus por ser Natal novamente. Para Nico, um homem de quarenta anos, não podíamos estar mais perto da verdade.
Nico tinha um espírito alegre e adorava socializar com as pessoas. Gostava de as conhecer, de saber os seus desejos, os seus receios, o que as deixava felizes.
Nico nasceu para ser o Pai Natal.
Filho de um casal que celebrava o Natal com toda o fervor e tradição, não era de admirar que o tivessem baptizado com um nome que se assemelhava ao do homem barrigudo com barba branca e roupa vermelha: Nicolau.
Os Natais de Nico em criança eram sempre maravilhosos.
A árvore de Natal era montada na manhã de 1 de Dezembro. Nico adorava abrir as caixas dos anos passados que continham todos os adereços natalícios. Sempre que desembrulhava uma caixa recordava-se dos anos anteriores e isso enchia-o de entusiasmo para o mês que se avizinhava. Depois de abertas as caixas, punham-se ao trabalho. Apesar de não parecer, os seus pais tinham todo um método para colocar as bolas e as fitas na árvore de forma a que, no final, ficasse deslumbrante. A Nico cabia a concretização de duas missões muito importantes: a de colocar a estrela no topo da árvore e a de acender as luzes. Quando o seu trabalho terminava, os três afastavam-se uns passos e, de braços cruzados, apreciavam a vista. Era naquele momento, com a árvore colorida e iluminada, que Nico acreditava na magia e no poder do Natal. Eles até fechavam as cortinas para que o brilho da árvore fosse resplandecente e magnífico. Quando era muito pequeno, a sua mãe pegava-o ao colo enquanto admiravam a árvore. Ali, agarrado à sua mãe com os seus braços a envolverem-no, era quando sentia que a vida era perfeita. Ali, no conforto do abraço e do amor do seu lar.
A vida era sempre perfeita no Natal.
Após o almoço, iam para a baixa de Lisboa e passeavam pelas ruas cheias de pessoas agasalhadas e nitidamente felizes pela época natalícia. Lanchavam num café algures até que, ao anoitecer, ocorria outro grande momento que o marcava sempre: o acender das luzes de Natal. Nico ficava de coração cheio ao passear pelas ruas iluminadas de Lisboa, de mãos dadas com os pais e a ser envolvido pelo Natal através das luzes, das pessoas e dos cheiros que tanto caracterizavam a cidade no último mês do ano. Era simplesmente esplêndido.
Outra tradição que o empolgava imenso começara como um desafio do seu pai.
- Nico, vou-te fazer um desafio.
- Qual, papá?
O pai, agachado ao lado do seu filho, envolvendo-o com o seu braço, lançou um olhar às pessoas que o rodeavam.
- Deseja “Feliz Natal” ao maior número de pessoas que conseguires.
- A todas as pessoas?
- Às que passarem por nós.
- Mas porquê, papá?
- Já vais perceber, filho.
Receoso, Nico foi desejando “Feliz Natal” a quem passasse por eles. Inicialmente, dizia de forma envergonhada e poucos eram os que o ouviam. Mas os que ele captava a atenção abriam-se num sorriso e retribuíam a felicitação com ternura. Afinal de contas, Nico era um menino rechonchudo com um rosto querido e ainda com laivos de bebé. Nico foi ganhando confiança até que, às páginas tantas, saltitava entre as pessoas a gritar “Feliz Natal”. Todas elas o felicitavam de volta e foi assim que Nico percebeu como o espírito natalício era verdadeiro e moldava as pessoas para serem mais altruístas, generosas e simpáticas. Era fantástico!
Ainda assim, levantava uma questão: Por que razão as pessoas não eram assim tão bondosas o ano inteiro?
Embebido em tanta magia natalícia, não foi de admirar que, a partir dos seus 30 anos, fizesse questão de ter um part-time digno de fazer os seus pais orgulhosos: era o Pai Natal num centro comercial. Numa das principais praças do centro comercial existia todos os anos uma pequena vila de natal, com bastantes atracções natalícias. A principal, claro, era o homem barrigudo e barbudo, vestido de vermelho e branco, sentado numa poltrona digna do seu estatuto de difusor de magia e alegria. Era uma figura do imaginário infantil e juvenil mas que todos os adultos sentiam sempre um carinho muito especial.
Quando Nico começara a sua tradição de ser o Pai Natal, fizera-o com todo o entusiasmo e alegria que se pedia à figura que representava. Durante várias semanas, passava horas sentado a receber crianças no seu colo e a ouvir os seus desejos e a tirar a cada vez mais exigente e obrigatória fotografia. Quando não estava na poltrona, Nico passeava-se pelo centro comercial a espalhar sorrisos pelas pessoas com as suas brincadeiras. Era, realmente, a época mais maravilhosa do ano.
Excepto este ano.
Este ano, Nico não sentia essa mesma energia. Não sentia aquela atracção orgânica que o fazia sentir a necessidade de ser o Pai Natal. Não sabia como ia dizer aos seus pais que este ano não iria cumprir a sua tradição. Este ano, não.
E porque não?, perguntariam eles.
Nem Nico sabia o que responder. A verdade é que estava cansado do materialismo impingido nas crianças. Nos adultos, era normal. Já fizera as pazes com isso. Mas não com as crianças. As crianças não. Como era possível que todas as crianças que passavam pelo colo a pedir prendas de Natal, só soubessem pedir consolas, jogos e telemóveis? Ao menos que pedissem um livro de vez em quando, mas não. Era sempre os malditos telemóveis o principal pedido. Algumas eram más ao ponto de o chantagearem. Afirmavam que se não recebessem o telemóvel ou o jogo, que se portavam ainda pior e a culpa seria dele.
Mesmo nos seus passeios com a vestimenta Natalícia, via crianças a berrar e a chorar lágrimas forçadas por não terem o que queriam.
Meu Deus, teria Nico envelhecido assim tanto? Desde quando é que as crianças se tinham tornado assim? Onde estavam as outras crianças que queriam ter amigos ou irmãos para brincarem? Ou que queriam ser como este ou aquele ídolo?
Apesar da sua vontade, não conseguiu dizer que não quando o seu pai lhe ligou a perguntar quando voltaria a ser o Pai Natal. Por isso, em Dezembro, lá foi Nico ouvir os desejos das crianças, disfarçados de ordens e imposições arrogantes. Nico limitava-se a abanar a cabeça e a dizer: "Sim, menino, vou trabalhar nas tuas prendas com os meus amigos elfos. Agora, porta-te bem!".
Mas não era a mesma coisa. A chama ardente do Natal era, agora, uma pequeníssima labareda, como a de um fósforo.
Mas, tal como o fogo, bastaria um pequeno sopro para a chama se propagar e aumentar de tamanho.
O seu milagre aconteceu num dos seus passeios, já Dezembro ia adiantado.
Estava Nico a passear pela rua, do lado de fora do centro comercial, um pouco cansado pela atenção que dera a tantas crianças que o exasperaram profundamente, quando sentiu um puxão na sua manga felpuda.
Nico parou. Olhou para baixo.
Uma criança pequena, com cerca de sete anos, olhava para si com um ar surpreendido. Era uma menina bonita, que tinha umas tranças longas e um gorro vermelho. Os seus lábios estavam abertos de surpresa e emoção. Nico conhecia aquele olhar, mas já não o via há dois ou três anos. Era um olhar de quem encontrava alguém que adorava imenso. A menina estava embasbacada por ver Nico, o Pai Natal.
- Pai Natal, és tu?
Nico olhou à volta, à espera de encontrar os pais da criança. Mas não viu ninguém.
- Sim, sou eu mesmo. Em carne e osso! Oh oh oh!
Nico tentara impregnar a sua voz com entusiasmo, mas falhara redondamente. O dia já ia longo e estava mesmo sem grande vontade de celebrar o Natal com pessoas que não conhecia. Só o desiludiam.
- Estás triste, Pai Natal?
Nico agachou-se e encarou a menina nos olhos. Ela parecia genuinamente confusa por ver o Pai Natal triste.
- Um bocadinho. Sabes como é, muito trabalho. Há muitas crianças a quererem prendas e eu tenho de as fazer todas.
- Os elfos não te ajudam?
- Ajudam, mas eu faço a maior parte do trabalho.
- Recebeste a minha carta, Pai Natal?
- A tua carta?
- Sim, a que escrevemos na escola. Eu escrevi uma carta com os meus desejos. A nossa professora disse-nos que tínhamos três desejos. Se calhar por isso é que tens tanto trabalho. Se cada menino pedir três desejos, são muitos mesmo. Não tens tempo para isso tudo. Mas eu posso ajudar-te, Pai Natal.
Nico sorriu. Passou a mão pelo cabelo da rapariga.
- Deixa-me adivinhar: pediste um telemóvel, uma consola de jogos e um jogo ou um computador? Talvez um tablet, até. Acertei?
A menina parecia não compreender. Franziu a testa e abanou a cabeça.
- Não. Não pedi nada disso.
Nico ficou intrigado.
- A sério?
- A sério, Pai Natal.
- Então conta lá o que me pediste?
- Mas não viste a minha carta?
- Ainda não, mas de certeza que um dos elfos ma vai entregar hoje. Diz-me lá, o que pediste?
- Pedi só um desejo.
- Só um? Então e os outros dois?
- Só tinha uma coisa que queria. Não sei o que pedir mais. Mas agora já sei.
- Sabes? O que é?
- O meu segundo desejo vai ser que o Pai Natal seja feliz e que faça os outros felizes. Sem ti não há Natal, tens de estar animado.
Nico riu-se para não chorar.
- És muito atenciosa, menina. Como te chamas?
- Carolina.
- És uma menina muito especial, Carolina. Obrigado.
Nico abraçou a rapariga e sentiu-se emocionar.
- E qual foi o teu primeiro desejo?
A menina olhou para trás e disse adeus a alguém. Nico seguiu a direcção do olhar da criança e viu um homem da sua idade a acenar de volta e a caminhar na direcção deles.
- O meu primeiro desejo é que a minha mãe passe o Natal connosco.
Ao ver o pai da menina com um sorriso de quem pede desculpa por a filha o poder estar a incomodar, Nico sentiu as lágrimas surgirem.
- Vamos, Carolina.
- Sim, papá.
Nico ficou a vê-los afastarem-se, pai e filha de mãos dadas rumo a um Natal sem a mãe.
Num impulso, caminhou atrás deles. Tinha de saber a extensão do pedido da menina. Que quereria ela dizer com aquele desejo? Estaria a mãe dela...?
Não podia pensar nisso.
Caminhou atrás deles até ao parque de estacionamento. Aí, ao vê-los entrar no carro, decidir segui-los de táxi. Entrou no primeiro que apareceu e tirou as suas vestimentas no veículo enquanto executava a perseguição. Aquela miúda era especial. Era uma raridade. Nico sentia uma necessidade tremenda de a ajudar. Só não sabia como.
Ao pararem perto de um cemitério, o coração de Nico estacou. O carro onde eles iam foi estacionado e saíram calmamente. Encararam o cemitério. Nico mandou o táxi parar a uma distância segura e saiu, a sua roupa de Natal num saco que trazia sempre consigo no bolso.
Ao longe, Carolina e o pai ajeitaram os casacos e atravessaram a rua.
Para longe do cemitério.
Mais aliviado, Nico continuou a segui-los por umas ruas até que eles pararam no destino. Foi então que o Pai Natal percebeu tudo.
Nico regressou a casa, nessa noite, e delineou um plano para a noite de Natal. Tinha de resultar.
No início da noite de 24, Nico abandonou o seu posto e foi trocar de roupa. Saiu do centro comercial e foi para a zona onde seguira a rapariga no outro dia. Chegou a uma praça de táxis e aguardou um pouco. Depois de esperar que alguns táxis seguissem caminho com os respectivos clientes, entrou no próximo da fila.
Sentou-se no banco de trás. Colocou o saco com a roupa do Pai Natal ao seu lado e sorriu para a condutora, que o olhava pelo retrovisor, claramente aborrecida por trabalhar na noite de Natal.
- Boa noite.
- Boa noite, senhor. Para onde é a viagem?
Nico deu-lhe a morada e não pôde deixar de reparar na surpresa contida da condutora. Mas ela manteve o seu ar profissional e não comentou.
Seguiram caminho.
- Então, a trabalhar na noite de Natal?
A mulher, da idade de Nico, encolheu os ombros como quem diz que estava resignada.
- Este ano teve de ser. Preciso mesmo do dinheiro. A minha filha entrou na escola o ano passado e são muitas despesas. Todo o dinheiro é bem-vindo.
- Pois, não se pode dar ao luxo de não trabalhar.
- Exactamente. E o senhor, tem filhos?
- Não. Eu e a minha namorada estamos a tentar há um ano e até agora ainda nada. Mas não temos pressa. Apesar de eu ser quarentão, ela tem menos seis anos que eu, portanto temos tempo.
- Isso não o preocupa?
- Claro que estou um pouco ansioso por ser pai, mas tenho a certeza que vai correr tudo bem. E a sua filha, é uma boa rapariga?
A mulher assentiu e o seu olhar brilhou tanto como as luzes de Natal.
- É uma menina maravilhosa. Tive muita sorte.
- É pena não passarem o Natal juntos.
Ela pareceu ficar emocionada e não disse mais nada. Nico podia ver que lhe custava muito ficar longe da filha. Decidiu não insistir.
Ao chegarem à rua que Nico fornecera como destino, a mulher encostou o carro à berma a parou, pronta para cobrar pelo trabalho.
- Preferia se estacionasse o táxi, por favor. Ali, está um lugar vazio.
A mulher ficou alarmada. Provavelmente, estaria a pensar que ele lhe queria fazer mal ou algo do género. Nico abriu os braços, como que se rendendo.
- Por favor, confie em mim.
A mulher estacionou o táxi e desligou o motor. Disse o preço a Nico e este estendeu-lhe uma mão cheia de notas chorudas. A mulher abriu os olhos e encarou Nico com surpresa. Não acreditava no que via.
- Que é isso, senhor? Isso é bem mais do que lhe disse.
- Quantas horas de trabalho teria de fazer para ganhar este valor?
A mulher estava nitidamente confusa, mas começou a contar o dinheiro que Nico lhe deu e fez as contas.
- Este dinheiro dá para umas sete ou oito horas, à vontade. Mas por que é que...?
Nico apontou para aquele que sabia ser o prédio onde a mulher morava.
- A Carolina e o seu marido estão à sua espera para celebrar o Natal. Aproveite. Feliz Natal.
A mulher olhou para a janela correspondente à sua sala. Eram visíveis as luzes da árvore de Natal a piscar, animadas. O chamamento do calor e amor da família era forte. Irresistível. A mulher começou a chorar. Não acreditava na sorte que tivera. A bondade daquele homem era inacreditável. Tinha-lhe pago as horas de trabalho para que pudesse passar tempo com a sua família. Já imaginava os braços pequeninos de Carolina à volta do seu pescoço, a sua risada fofinha e querida, quando se virou para trás.
- Mas eu não posso aceitar... - Começou por dizer, parando ao constatar que estava sozinha no táxi.
O homem tinha ido embora.
O dinheiro estava na sua mão.
A sua família ali perto.
A mulher tomou a decisão e saiu do veículo, correndo para casa, para os braços do marido e para a alegria e maravilha da filha, que não parava de dizer que o seu desejo de Natal se tinha realizado. Era tudo perfeito. No entanto, quando a noite acabou um pouco, recordou-se de algo.
- Mas ainda me falta um desejo... Eu pedi dois desejos mas só um é que se realizou. - Disse a menina para os pais. Olhou para eles com um ar implorante.
Os pais entreolharam-se durante uns momentos. Depois, sorriram e assentiram.
Nico chegou a casa e passou um Natal extraordinário com a sua família. Tinha o coração quente pela felicidade que proporcionara a uma criança que era uma raridade nos tempos que corriam. O coração de Carolina ainda era puro, como deveria ser o coração de todas as crianças. Nico esperava que, quando tivesse um filho, também ele fosse assim. Pelo menos, Nico iria tentar passar a mensagem de bondade, altruísmo e simpatia em que ele tanto acreditava.
Mas, actualmente, havia pouco disso.
Ou será que Nico estava enganado?
No dia 25, dia de Natal, Nico ia trabalhar algumas horas antes do jantar para entreter as pessoas que fossem passear no centro comercial, onde a maioria das lojas estava fechada excepto na restauração.
Estava Nico no seu vestiário a preparar-se quando um colega surgiu bastante afogueado.
- Que se passa, homem? Estás aí todo ofegante. Há algum incêndio ou quê?
- Tens que ver isto. Veste-te! Vamos!
Surpreso, Nico, já transformado em Pai Natal, caminhou para a praça principal. Antes de dobrar a última esquina, notou um certo burburinho que se sobrepunha à música ambiente natalícia que se espalhava por todo o centro comercial.
Ao virar a esquina, deparou-se com a sua vila de Natal completamente lotada. Aliás, ele nem conseguia ver a sua poltrona. Dezenas, talvez centenas, de pessoas, vestidas com roupas e adereços alusivos ao Natal, encontravam-se em plena cavaqueira.
Nico caminhou de forma insegura, incerto sobre o que se estava a passar. Quando se aproximou da multidão, as pessoas começaram a bater palmas e a gritar "Feliz Natal!" a plenos pulmões. Nico acenou e continuou a caminhar para a sua poltrona. Um corredor humano abriu-se no meio, furando o amontoado de pessoas. No final do corredor, antes da sua poltrona, estava uma menina com os seus pais.
Nico reconheceu-os de imediato.
- Olá, Carolina.
- Olá, Pai Natal! Feliz Natal!
Nico estava sem reacção. Sentia o seu fato a escaldar por toda a atenção a que estava a ser alvo.
- O que se passa aqui?
Foi a mãe de Carolina quem respondeu.
- Pelos vistos, o Pai Natal ajudou a minha filha a realizar o seu desejo de Natal. Mas a verdade é que ela tinha dois desejos.
Nico olhou para a menina, que tinha uns olhos brilhantes de alegria. Agachou-se e abraçou-a com força. Muita força mesmo. Aquela era definitivamente uma menina muito especial.
- Fazer o Pai Natal feliz... - Murmurou Nico, recordando-se do segundo desejo.
Voltou a erguer-se e sentiu a emoção a picar-lhe por trás dos olhos.
A mãe do rapaz voltou a falar, toda ela emocionada:
- Você ajudou a Carolina a realizar o primeiro desejo e nós... - Abriu os braços de forma a abarcar toda a vila do Natal. - Nós vamos realizar o segundo. Feliz Natal!
De imediato, Nico começou a ser abraçado por crianças de todos os lados. Cada uma agradecia a ajuda e desejava-lhe um Feliz Natal. Ele não tinha mãos para tanta gente. Tantas mãozinhas pequeninas a agarrarem na sua roupa, a querer um pouco do Pai Natal para si, para lhe dar um beijinho ou um abraço. Era inacreditável.
Nico reparou, então, que as crianças tinham um presente na mão.
- Não vão abrir o vosso presente?
- Não, Pai Natal. Estas prendas são para os meninos que não conseguem ter prendas. - Respondeu um menino, levando o seu presente e colocando-o junto de um monte gigante de caixas embrulhadas com presentes.
- Estamos a fazer uma recolha para fins solidários. - Concluiu um dos pais.
Carolina voltou a aparecer e disse:
- Estamos a ajudar outras crianças por ti, Pai Natal. Para veres que as crianças não querem só coisas para si mesmas. Também sabemos ajudar os outros!
Nico sentiu-se pequeno, humilde por tamanha homenagem. Pegou em Carolina ao colo e virou-se para o seu lugar como Pai Natal.
Reparou, então, que por cima da poltrona estava um cartaz enorme, todo ele pintado e feito à mão pelas crianças. A mensagem era linda:
"Obrigado por tornares o nosso Natal mágico!".
Nico começou a chorar e caminhou para a sua poltrona. Quando lá chegou, estava uma pequena caixa embrulhada no assento. Nico rasgou o embrulho sem sequer pensar no que poderia ser, tal era o seu estado surpreendido e abalado perante o que estava a acontecer.
Abriu a caixa e o que avistou deixou-o sem forças. Literalmente. Teve de se sentar para não cair.
Tirou o conteúdo da caixa e admirou-o. Olhou por cima da prenda quando algo lhe captou a atenção.
À sua frente estava a sua namorada e os seus pais.
Na mão de Nico estava uma farda de Pai Natal.
Mas o que o deixara ainda mais emocionado foi precisamente o tamanho dessa farda.
Era do tamanho de um bebé.
Nico levantou-se e abraçou a sua namorada grávida. Rodopiaram de felicidade, as lágrimas a brotar de ambos como de uma fonte no Verão. Nico só não tirou a barba falsa para não estragar a magia às crianças que o continuavam a rodear.
Havia prioridades.
E foi assim que, com uma boa acção de intenções puras e altruístas, Nico conseguiu ter o melhor Natal de todos os tempos.

Fim.
FELIZ NATAL A TODOS!
Bruno M Franco

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