by - 24 setembro



“CASAMENTO DE ALTO RISCO” - PARTE 1/5

Aquele era um casamento de alto risco. Fora considerada a hipótese de se adiar a cerimónia, ou de se fazer num local privado, mas os noivos foram irredutíveis. Aquela era uma data com muito significado para eles e a Igreja em questão fora a mesma onde os pais da noiva se haviam casado. Não havia qualquer hipótese de alterar o que quer que fosse. Para mal dos pecados do detective da PJ.
Vários elementos da Polícia Judiciária encontravam-se espalhados pela Igreja, em pontos estratégicos. O alarido devia-se a um factor: o noivo era filho do homem responsável pela deterioração da qualidade de vida no Sul de Portugal. O pai do noivo dera o seu aval, há um par de anos, para uma prospecção petrolífera que arruinara a paisagem harmoniosa e tranquila que tanto caracterizava a zona algarvia. Várias espécies de animais estavam em alto risco devido à poluição provocada pelas obras executadas pela empresa petrolífera. Tudo porque existia petróleo debaixo dos seus pés e queriam tirar o máximo de lucro dessa situação. Era puro interesse financeiro e económico por parte do primeiro-ministro português.
Sim, é isso mesmo. Era o filho do primeiro-ministro que se ia casar naquele dia.
A situação da prospecção petrolífera gerara, desde o início, forte contestação do povo, tanto a nível local como nacional. O Algarve tratava-se de um ponto turístico de extrema importância para o país e o primeiro-ministro, com a sua decisão, podia ter arruinado tudo.
Activistas, diversas organizações ambientalistas e defensoras do património e pessoas comuns preencheram as últimas semanas com protestos e manifestações. “Não ao furo! Sim ao futuro!”, era uma das frases mais gritadas e partilhadas nos últimos meses. Foram escritas imensas cartas abertas ao governo. Muitas imagens e textos foram partilhados nas redes sociais com a intenção de inflamar o ânimo de cada vez mais pessoas em torno desta questão. Foram executadas muitas manifestações em Lisboa, com diversas marchas a percorrer as principais artérias da capital tendo sempre como destino a base do poder do governo, no Ministério do Ambiente ou no Parlamento. Vários cordões humanos foram criados em praias de Norte a Sul, mas de nada valera. Os contratos tinham sido assinados e as obras para a realização do furo já tinham acontecido.
O que preocupava os homens da PJ naquele final de manhã quente em Lisboa era o facto de o primeiro-ministro ter recebido várias ameaças de vida, nos últimos dias, contra o seu filho. Muitas delas referiam o dia do seu casamento como perfeito para se vingarem do mal que o seu pai fizera ao país ao avançar com a prospecção petrolífera.
“E se além do furo na costa algarvia também fizéssemos um furo no peito do seu filho?”, “Vamos furar o casamento do seu filho como você furou o Algarve”, ou ainda “O casamento do seu filho vai sair furado” eram algumas das ameaças que a Polícia Judiciária reunira. Por isso, aquele casamento que fechava o mês de Agosto era de alto risco. Altíssimo risco.
O detective responsável pela missão de evitar distúrbios durante a cerimónia e a festa ao longo daquele dia executou algumas medidas de segurança.
Num raio de um quilómetro da Igreja apenas pessoas autorizadas e convidadas poderiam passar as barreiras. Para entrarem na Igreja e na Quinta onde se ia celebrar o copo de água era necessário e obrigatório a execução de uma revista completa ao corpo, uma passagem por detector de metais e a apresentação do convite e do documento de identificação.
Estas medidas eram consideradas suficientes para o decorrer normal e em segurança do casamento e da sua celebração. Ou pelo menos o detective queria acreditar que sim. No entanto, algo no seu íntimo dizia-lhe que aquela missão tinha tudo para correr mal...

Continua...

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