by - 25 setembro



“CASAMENTO DE ALTO RISCO” - PARTE 2/5

O casamento de alto risco estava mesmo a acontecer. Os mais de trezentos convidados conversavam animadamente entre si, com o habitual choro de alguns bebés como pano de fundo.
O primeiro-ministro, em pé ao lado do filho no altar enquanto aguardavam a chegada da noiva, mostrava-se um homem orgulhoso e feliz, como qualquer pai que vê o seu filho casar-se com uma mulher linda e inteligente como era a noiva dele.
- Pois é, pai, a partir de hoje vou ser um homem casado.
- É verdade, filho. Estou muito orgulhoso de ti.
- Obrigado.
- Se bem que, em termos práticos, nada muda. Vocês já viviam juntos de qualquer maneira, portanto só muda em termos oficiais.
- Eu sei, mas mesmo assim sinto que o dia de hoje vai marcar uma nova fase na nossa vida. Ainda que, lá está, em termos práticos nada mude.
- O que pode mudar é vocês darem-me um netinho.
- Pai, já falámos sobre isso. – Reclamou com um tom exasperado mas querendo manter o ar alegre para as fotografias que eram continuamente tiradas. – Não queremos esse tipo de pressão. Não é saudável.
- Não está mais aqui quem falou. Só quero que sejas feliz.
Ao ouvido do primeiro-ministro chegou a informação de que a noiva estava prestes a chegar. O detective afastou-se, então, do chefe do governo e voltou para o seu canto, próximo da parede lateral que estava ao nível do altar, de frente para o público e para a entrada da Igreja. No seu auricular podia ouvir as conversas curtas e profissionais dos diversos elementos da equipa da Judiciária enquanto confirmavam a manutenção inviolável das barreiras de segurança.
Apesar de tudo, o detective estava preocupado. Muitas das ameaças recebidas consistiam em declarações de como eles iriam conseguir infiltrar-se no casamento e executar o trabalho. Seria essa certeza apenas bluff? O detective passara as últimas semanas a confirmar o passado e toda a actividade de todos os profissionais e convidados do casamento. Até fizera vistorias às contas das redes sociais na procura de algo que mostrasse a mínima tendência ambientalista ou contra o governo.
Concluíra que muitos dos convidados simpatizavam, na verdade, com as questões ambientalistas, como era cada vez mais normal e frequente nos tempos actuais. Foram realizados muitos interrogatórios para confirmar se esses simpatizantes tinham alguma tendência radicalista e, assim, filtrar a presença desses convidados que apoiavam demasiado fervorosamente a protecção ambiental. Cinco convidados foram recusados pelo detective devido a discussões mais acesas que tiveram sobre a decisão do governo em executar a prospecção petrolífera, tanto durante os interrogatórios como em longas trocas de mensagens nas redes sociais.
A noiva ficara furiosa, afirmando que era uma estupidez impedirem pessoas da confiança deles de participarem na festa por culpa das suas convicções. O detective tentara ser intransigente, mas a vontade da noiva acabara por ditar ser mais forte. A verdade, dissera ela, era que qualquer pessoa iria deixar os seus interesses políticos e convicções fora da Igreja e da Quinta, em nome da amizade que tinham por eles e do amor que ia ser celebrado.
O detective tivera de ceder e, por isso, estava muito preocupado. Sabia que a noiva tinha razão, mas e se um desses convidados tivesse outras intenções? Podia não estar armado, mas havia sempre formas de matar um homem com as próprias mãos. Na Quinta, por exemplo, dezenas de facas iam estar disponíveis para tal efeito. Centenas, por sinal.
- A noiva está quase a chegar. – Avisou um colega pelo auricular.
- Tudo a postos. – O detective olhou para o relógio. – Ela que entre, já está vinte minutos atrasada.
- É o atraso da praxe, detective. Não te preocupes que ninguém estava à espera de algo diferente.
- Eu sei, mas gosto de estar a horas nas nossas missões.
- Relaxa, meu, com todas estas medidas de segurança nem um espião dos filmes americanos conseguia penetrar no casamento.
O detective sorriu. Os colegas tinham razão. Estava a ser demasiado paranóico. Talvez se devesse ao facto de ter lido tantas ameaças contra o noivo e em como o iam matar no dia do seu casamento. Não tinha sido fácil ver tanto ódio e tanta raiva despejados em cada carta contra um homem que eles não conheciam pessoalmente. O detective conhecia o primeiro-ministro e achava-o um homem íntegro e que tinha sempre em vista os maiores interesses do país. Nesta situação, talvez fosse o povo a não possuir uma visão tão aguçada e de longo alcance como o político.
E essa falta de visão levou a que um dos convidados, um homem vestido com um fato cinzento escuro e gravata verde, se lançasse para o altar a gritar obscenidades com as mãos em riste para apertar o pescoço do noivo. O seu olhar não enganava ninguém. Ia com a intenção de matar o filho do primeiro-ministro.


Continua...

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5 comentários

  1. Bem, agora é só aguentar a curiosidade até amanhã!

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  2. Não é esse o perigo! Esse deve ser um qualquer mal amado que por ali anda... vamos ver... notei que uma das frases não me soou bem, mas posso ser só eu.... "a vontade da noiva acabara por ditar ser mais forte..." usa-se as duas palavras? Ditar ser mais forte? Não seria só "acabara por ditar..." a decisão, por exemplo ou "acabara por ser mais forte"? Não leves a mal, é sinal que li com muita atenção... e fiquei na dúvida... até amanhã.

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    1. Na próxima parte haverá mais uma suspeita. Será confirmada depois? Veremos...
      Eu creio que sim, que não há problema em usar as palavras daquela forma.

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  3. Irei daqui para o fim conto triste,sem sentido um conto é para se ler não para nos sentirmos como se estivéssemos num stand comedy

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