by - 28 setembro



“CASAMENTO DE ALTO RISCO” - PARTE 5/5

A noiva era a activista infiltrada no casamento. A própria noiva.
A partir dos disparos que abalaram o interior da Igreja, foi tudo abaixo. Três dos cinco convidados que o detetive tivera suspeitas e que quisera banir do casamento estavam realmente feitos com a noiva e perturbaram o trabalho dos homens da PJ atirando-se contra eles, impedindo-os de tomarem as medidas exigidas naquela situação. Acabaram por ser detidos de imediato. O problema era que, no final de contas, conseguiram o que queriam. Atrapalharam a actuação dos poucos homens da PJ com o intuito de proteger a noiva assassina. O filho do primeiro-ministro estava a morrer e a culpada escapara na limusina sem que algum elemento da PJ a conseguisse impedir.
Para mal dos pecados do detective, veio a descobrir que o condutor da limusina era, realmente, um embuste. O verdadeiro ficara em casa com uma gastroenterite provocada por um dos activistas que fizeram parte daquele plano. O bigode do condutor, apesar de verdadeiro, fora moldado e aparado para que ficasse igual ao do condutor verdadeiro. O resto, era genética. O falso condutor era irmão do verdadeiro e, apesar de muito semelhantes, diferiram sempre no peso e no bigode ao longo da vida. Naquele final de manhã, no entanto, diferiram apenas no peso.
Quando o detective finalmente conseguiu chegar ao largo da Igreja já não havia limusina nem noiva. As centenas de convidados dispersaram pelas ruas adjacentes, assustados, ou, no caso de alguns, deixaram-se ficar escondidos no interior da Igreja, protegidos pelos bancos não fosse alguém disparar novamente.
O detective ficou ainda mais frustrado quando, segundos depois, lhe foi comunicado que uma das barreiras colocadas no raio de um quilómetro fora destruída pelo veículo da noiva e que ela conseguira escapar incólume. Ia começar uma caça à noiva. E não seria nada agradável. Lançou o alerta para a limusina que estava em fuga e pediu a todas as unidades que perseguissem a viatura antes que eles conseguissem trocar de veículo. Se o fizessem sem ninguém ver, a noiva podia muito bem conseguir escapar incólume.
O detective amaldiçoou a sua sorte. Numa missão tão bem orquestrada fora batido por uma organização ambientalista que conseguira cumprir a sua ameaça de criar um furo, ou dois neste caso, no filho do primeiro-ministro. Foi chamado o 112 e, apesar de tudo, o noivo ainda estava vivo, mas a perspectiva não era boa. Os ferimentos eram demasiado graves.
O detective fora vencido porque a noiva estava feita com os activistas. Na sua arrogância profissional, descuidara a investigação da noiva, tal como da família do noivo. Afinal, quem poderia adivinhar que seria a própria noiva, com quem o filho do primeiro-ministro namorava há mais de dois anos, a ser ela própria a executar o noivo?
Tinha sido tudo planeado desde o início?
Mais tarde, no início da tarde, o detective percebeu que devia ter sido ainda mais cuidadoso e minucioso. Após investigação intensiva, reparou que o namoro entre os noivos começara precisamente na altura em que o primeiro-ministro, em início de mandato, assinara o acordo com a petrolífera que iria fazer a prospecção de petróleo no Sul do país. A noiva, todos do seu círculo de amigos o sabiam, era uma activista radical, que participava nas manifestações a favor do ambiente sempre de uma forma fervorosa e, aos olhos do detective, um pouco tresloucada. As imagens que conseguira descobrir nos perfis públicos de alguns amigos eram aterradoras. Sentiu um arrepio percorrer a sua espinha ao ver aquele olhar que tantas vezes já observara. O olhar de quem faria de tudo para atingir os seus objectivos. Tudo. Incluindo matar o seu noivo no dia do casamento.
Como não vira tal coisa? Sentiu-se frustrado consigo mesmo. Falhara como profissional. Confiara na palavra do noivo de que eles se amavam verdadeiramente. Afinal, a noiva aproximara-se do filho do primeiro-ministro como parte de um plano. Fora tudo planeado por eles. Todas as fotografias em que apareciam tão apaixonados, todas as entrevistas que ela deu em que referia sempre o imenso e humilde amor que sentia por ele. Era tudo uma farsa desde o início. Tudo para tentar evitar que o Algarve fosse prejudicado pela prospecção de petróleo. Apesar desse plano, o Algarve acabou mesmo por ser prejudicado.
Sentiu pena dele. Se sobrevivesse, iria regressar dos mortos para uma vida com uma enorme desilusão amorosa. No entanto, pelo que ouvira do Hospital há minutos, dificilmente iria viver.
O detetive ainda podia remendar a situação capturando a atacante, mas falhara naquele dia porque não se lembrara de como costumava ser a vida.
Uma das regras mais elementares. E nunca mais se iria esquecer disso. Nunca mais.
O que ele se esquecera era que a vida tinha sempre o condão de nos trazer surpresas mesmo quando achamos que temos tudo sob controlo.
A vida não é para ser controlada ao mais ínfimo detalhe ou segundo. É para ser vivida. É para esperar o imprevisível. É para estarmos a contar com o impossível. Porque a vida tem destas coisas. De um momento para o outro, tudo pode mudar. Basta um segundo, um acontecimento repentino, uma decisão, uma palavra. Por isso, nunca podemos dar nada como certo, tal como o detective fizera.
Por vezes, até, basta uma bala disparada na direcção certa para tudo mudar.


FIM

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7 comentários

  1. Respostas
    1. Obrigado Maria João! Fico muito feliz por ter gostado.

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  2. Gostei muito da história! Sempre com um toque surpreendente :) quero mais desafios destes para ler!! *

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    1. Obrigado, Cátia! Vou já pensar no próximo desafio :)

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  3. Se chamam a isto surpreendente. Não contesto,quando leio gosto de algo que me cative. Lamento este não foi o caso.
    Peço desculpa pela sinceridade mas espero que o próximo que leia me cative

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    1. Obrigado pelo comentário. Espero que no próximo conto o consiga cativar. O que achou do "A Denúncia"?

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    2. Sinceramente achei com pouco interesse muito fantasioso,sem um fio condutor. A meio perdeu o objetivo, percebe se que queria fazer frases marcantes o que retirou o prazer da leitura. Lamento mas não será um autor que estarei atento ao próximo conto

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