by - 27 setembro



“CASAMENTO DE ALTO RISCO” - PARTE 4/5

O detective puxou o bigode do condutor com força, decidido a provar que ele era um impostor. Mas o resultado consistira num grito estridente que chamara a atenção da noiva e de vários convidados, além de que ficara com um tufo de pêlos nos seus dedos. O condutor começou a lacrimejar, agarrado ao lábio superior e com o olhar ferido. A noiva e o pai fizeram um compasso de espera, surpreendidos pelo grito do condutor.
- O que pensa que está a fazer?! Porra que isso dói!
O detective ficou sobressaltado. Não estava à espera daquilo. Provavelmente o recente ataque ao noivo deixara-o alterado.
- Você ganhou peso nos últimos dias?
- Além de me agredir, ainda me insulta? Ganhei sim, não se nota? Até a roupa me está apertada demais.
- Como?!
O detective não conseguia raciocinar. Fora apanhado desprevenido.
- Como é que se ganha peso, detective? Bolas, pá! Tenho andado muito nervoso e, para me acalmar, sabe como é, a comida é óptima para isso, principalmente os doces e essas porcarias todas.
Após pedir mil desculpas e com a promessa de lhe oferecer um copo na celebração daquela tarde, o detective voltou para o seu posto de forma cabisbaixa. A noiva e o pai começaram, finalmente, a caminhar sob os acordes da marcha nupcial que preenchia cada milímetro do espaço sagrado. O detective abanou a cabeça. A sua missão estava a correr bem, mas parecia que ele próprio a queria sabotar. Caminhou a olhar para o chão, pensativo.
Por isso, não viu o sinal a tempo de evitar uma desgraça.
No meio de sorrisos de pura felicidade e palmadinhas nas costas das suas amigas e familiares, a noiva abrandou ainda mais o passo, com dois terços do percurso percorrido rumo ao altar. A sua mão desapareceu no meio dos folhos do vestido e, mantendo sempre a postura, a mão direita voltou a aparecer.
Só que a mão não estava vazia.
Sem dizer mais nada, a noiva apontou o seu pequeno revólver ao homem com quem se iria casar e disparou duas vezes, acertando uma vez no peito e outra na coxa da perna direita.
Gerou-se o pânico. Os convidados começaram a correr em todas as direcções, assustados pelos disparos e pela aparente loucura da noiva. O detective, entorpecido, tentou reagir, mas não percebeu de imediato o que aconteceu. O noivo estava caído, duas manchas vermelhas a crescerem no seu peito e na perna. Mas de onde surgiram os disparos?
- Quem disparou? – Perguntou para o seu auricular.
- Foi a noiva!
O detective ficou estupefacto. Ainda pensava no condutor da limusina.
- O quê?
- A noiva, detective! Foi a noiva que disparou! Tinha um revólver no meio do vestido!
- Conseguem ter contacto visual com ela?
- Negativo. – Afirmaram os poucos colegas que restaram, após dois se terem ausentado para lidarem com o homem que tentara previamente atacar o noivo. Estavam em número muito reduzido.
- Como é isso possível? Alguém tem de a estar a ver!
- As pessoas estão a ir contra nós, a pedir protecção, não consigo ver nada!
O detective tentou furar a multidão de centenas de convidados e chegar ao corredor principal da Igreja por onde a noiva passou. Afastou quem lhe apareceu no caminho, ignorando se estava a ser rude ou não. Quando finalmente conseguiu passar pelo meio de vestidos e fatos de todas as cores e de muitos gritos, o seu sangue gelou ao ver o que se encontrava no chão.
O vestido da noiva.
Ela livrara-se do vestido, num acto de pura magia ao estilo circense.


Continua...

You May Also Like

2 comentários

  1. Ah ah ah! Eu não disse que era a noiva?! Agora quero saber porquê e como a coisa termina. Ansiosa!!

    ResponderEliminar
  2. É verdade! Vou já publicar a parte final.

    ResponderEliminar