by - 07 novembro



“HOJE VOU MORRER” - PARTE 3/5

O leito do rio aproxima-se, bem como o final da minha vida. Onde ia eu na minha história? Já sei, eu e o meu marido tínhamos começado a tentar ter filhos e eu tinha passado os trinte e cinco anos de vida.
O problema de termos uma relação extremamente física é que, a dado momento, começámo-nos a fartar um pouco da rotina implementada pela vontade em engravidar. Chegávamos a casa, tínhamos de fazer amor. Acordávamos, tínhamos de fazer amor. Notei que ele já não o fazia com tanto vigor, com tanta vontade ou convicção. Mas tinha de ser se queríamos ter um filho. Tinha de ser.
Decidi apimentar as coisas com lingerie mais sexy e umas escapadelas em hotéis noutras cidades, como Madrid, Londres, Roma e Paris. O vigor fora maior, ficava sempre a pensar que tudo iria ficar resolvido. Mas no regresso a Portugal voltava tudo ao mesmo. Estaria o desejo dele a diminuir por me ver apenas como uma forma de ter filhos? A partir de certo ponto, passei a olhar-me no espelho todos os dias para ter a certeza de que ainda estava em forma. E estava. Melhor do que antes, até. O meu casamento com ele aumentou as minhas idas ao ginásio e tenho a certeza que qualquer homem ia para a cama comigo sem pensar duas vezes.
Por que razão, então, o interesse do meu marido diminuíra?
Quase todas as mulheres passam por isto e as que não passam são umas sortudas. O desinteresse do meu marido começou a deixar-me constrangida, a pensar que não era boa o suficiente para despoletar o seu desejo. Estaria mais feia? Não, também achava que não. Estaria a sufocá-lo por querer almoçar sempre com ele no trabalho e estarmos sempre juntos? Todos achavam querido fazermos isso juntos. Ele não acharia?
A verdade é que passaram dois anos e nada. Apesar das centenas de tentativas, eu não conseguia engravidar. Comecei a desesperar e a ficar, admito, rabugenta. Ao terceiro ano de tentativas falhadas, comecei a duvidar de mim mesma. Seria um problema meu? Será que não conseguia engravidar? Será que, como já tinha trinta e oito anos, tinha chegado a um ponto sem retorno?
A minha cabeça enchia-se de dúvidas, mas o meu marido não parecia minimamente preocupado. Quando tentava falar do assunto, ele afastava-o levianamente dizendo que ainda tínhamos tempo, que mais tarde ou mais cedo teríamos um filho. Não podíamos era stressar, porque aí então é que seria impossível, dizia ele. E eu compreendia e fingia ficar descansada. E assim passou-se mais um ano. Eu, aflita, ele, despreocupado como se nada fosse. Comecei a duvidar da vontade dele em ter filhos quando lhe perguntei se não seria boa ideia irmos a um médico perceber se havia algum problema connosco.
Ele sentiu-se ultrajado, a dizer que não ia a nenhum médico ver a pila dele ou se tinha algum problema.
- Mas não queres ter filhos? – Perguntei eu, em total desespero.
Ele manteve o ar indignado e saiu sem me dizer nada. Devo dizer que, a partir daí, começámos a dormir algumas noites separados, ele a adormecer no sofá a ver televisão, ou a acordar mais cedo e preparar-se logo para não haver hipótese de fazermos sexo de manhã. Começou a faltar aos nossos almoços a dizer que tinha trabalho extra por causa disto e daquilo.
Eu não sou burra. Ele estava claramente a evitar-me. Estava com medo de ser infértil e que todo aquele poderio de homem, musculado e fit, afinal tivesse uma pila com pólvora seca. O orgulho de homem era uma coisa lixada. E assim se passou mais um ano. Tinha eu quarenta anos. O fantasma de não poder engravidar avultou-se mais ainda. O meu sonho de ser mãe começava a ser uma miragem.
Comecei a falar com a minha mãe sobre os problemas que estávamos a ter. Ela sugeriu que fizesse uma surpresa ao meu marido e o levasse para um sítio, no Banco, onde pudéssemos fazer amor e eu lhe pudesse presentear o meu corpo com roupa provocante. Sinceramente, nunca percebi por que é que têm de ser as mulheres a fazer essas iniciativas de roupa sexy, mas aceitei e fiz novamente essa jogada. Fechei os olhos a esse estereótipo machista em nome da nossa felicidade.
Lembrei-me, certo dia, que havia uma sala de arrumos no último piso que nunca era utilizada. Decidi ir para lá e preparar-me antes de o chamar para aquele piso. Tinha na cabeça o guião do que ia fazer e revivia-o enquanto caminhava de forma excitada, a ficar ligeiramente húmida de antecipação. Ele abriria a porta e ficaria surpreendido por me ver quase despida com uma roupa bastante provocante. Eu puxava-o para dentro e puxava-lhe as calças para baixo, pegava no sexo de ele e…
O problema é que quem abriu a porta da sala de arrumos nesse dia e foi surpreendida fui eu. Não estava nada à espera daquilo.

Continua...

You May Also Like

3 comentários