by - 17 agosto




RADIOTERAPIA é uma paixão única na minha vida, ou não fosse esta a área da saúde que decidi estudar e na qual trabalho há mais de cinco anos, no IPO de Lisboa. É algo que me enche de orgulho por ajudar tantas pessoas na batalha sempre difícil contra o cancro. Esta Paixão é ainda mais especial pelo facto de me ter levado a conhecer a minha esposa. Leiam tudo sobre uma das principais paixões da nossa vida através do texto que colocámos na Mesa RADIOTERAPIA no nosso casamento:



Boa tarde e sejam muito bem-vindos, caros convidados da Sara e do Bruno!
É com enorme prazer que eu, o vosso anfitrião, vos recebo aqui nesta mesa radioactiva e tão importante na vida do nosso casal favorito de hoje:
A Mesa RADIOTERAPIA!
Espero que se sintam orgulhosos por estarem nesta mesa porque, como certamente saberão, esta é das paixões mais fortes da vida da Sara e do Bruno! Ou não fosse, claro, a profissão que ambos escolheram para a sua vida.
É engraçado vermos como a Radioterapia apareceu na vida de ambos, pois foi esta profissão e muitas outras condicionantes que os levaram a conhecerem-se e, como podem ver, a apaixonarem-se um pelo outro até os levar ao casamento de hoje.
A Sara sempre ambicionou seguir a área da saúde, apesar de sentir uma forte atracção pela área do ensino. O que ela mais queria fazer era ajudar os outros a lutarem contra as suas maleitas e doenças e melhorar a qualidade de vida dos doentes. Inicialmente, quando era mais nova, achava que queria ser médica. Até que percebeu que com as suas notas isso seria impossível. Por isso, o pensamento dela foi: “se não pode ser medicina, o que está a seguir a isso? Enfermagem! Ora pois claro, é mesmo isso!” E assim, o objectivo dela, à entrada para o secundário, foi tirar o curso de Enfermagem. Sabem o que é o mais curioso? Ela odeia agulhas. A menos que seja ela a espetar nos outros. Esperta! No final do secundário e até aos dias de hoje, a nossa Sarita alimenta o bichinho do ensino dando explicações, em casa, a vários miúdos todas as semanas, focando-se mais na área da Matemática.
Terminado o secundário, e chegada a hora de fazer as suas candidaturas, a Sara inscreveu-se para seis opções de Enfermagem um pouco pelo país inteiro. As últimas duas opções eram Saúde Ambiental e Radioterapia, pelo facto das médias serem mais acessíveis e para ser um seguro para ela. Pois bem, a nossa Sara entrou em Saúde Ambiental e isso deixou-a devastada por ser algo que ela não queria assim tanto. Mas, ao menos, algo de bom tinha conseguido: entrara na Faculdade e ela sabia que, a partir daí, poderia mudar para Radioterapia facilmente. Na verdade, ela candidatou-se logo a Radioterapia na segunda fase, uma vez que queria tratar doentes e o curso onde tinha entrado isso não acontecia. Quando ela soube que tinha conseguido mudar de curso, o alívio foi enorme. Ia concretizar o seu sonho: tratar doentes! A sua motivação subiu a pique e lançou-se na aprendizagem como ninguém. Foi durante esses anos que conheceu a sua Madrinha de Casamento, Ana Serrano, e construíram uma amizade linda, forte e engraçada, recheada de croissants de chocolate (nunca comeram tantos na vida como naquele período!). E foi também nesses anos, principalmente nos verões, que a nossa noiva teve inúmeros empregos, principalmente na área do vestuário, impregnando-a com a independência, irreverência e desembaraço que tanto a caracteriza e que tanto o Bruno adora. Na ânsia de saber ainda mais sobre a sua futura profissão, a Sara lançou-se no Mestrado de Terapia com Radiações imediatamente após a conclusão da Licenciatura em Radioterapia. Não lhe digam que vos disse isto, mas ela ainda está para terminar a tese! A ver se agora que está casada o termina. Veremos!
O importante é que, um ano depois de terminar a Licenciatura, foi contratada para o IPO de Lisboa, algo que ela queria imenso. Como todos bem sabemos, entrou com o pé esquerdo no primeiro emprego da sua área (exactamente, a nossa noiva é uma esquerdina ferranha e com muito orgulho! Graças a Deus que o Bruno também é, ou estava o caldo entornado!). Ela é extremamente feliz no que faz e, sejamos honestos, é muito boa no que faz. Assim que entrou no IPO uma coisa era certa e confirmou-se: a sua vida nunca mais seria a mesma.
O Bruno decidiu seguir Radioterapia por outros motivos. Aos 14 anos, quando ainda estava no 9º ano de escolaridade, a sua mãe faleceu. Foi uma situação devastadora e life changing, como ele já teve oportunidade de escrever publicamente um par de vezes e como vocês podem imaginar, mesmo que não tenham lido. Aos 14 anos ninguém merece perder a mãe, mas o Bruno perdeu-a. E perdeu-a para o cancro. O resto é fácil de imaginar: ficou com raiva por o cancro ter levado a sua mãe e jurou, no momento em que a viu morta pela primeira vez no hospital, perante o olhar derrotado dos médicos, que iria fazer a diferença e que iria lutar contra esta doença. Prometeu naquele dia que iria ajudar as pessoas a lutarem contra esta doença e que faria o que lhe estava ao alcance para que ninguém tivesse de sofrer o que ele sofreu. Claro que este era um sonho ingénuo, digno de uma criança revoltada, mas os princípios nobres estavam todos lá e nunca os perdeu. Por isso, no final do secundário, três anos depois, colocou Radioterapia como primeira opção e entrou no curso sem problemas. O seu objectivo estava cada vez mais perto de ser concretizado. Terminou o curso quatro anos depois, em 2012, mas teve de esperar dois anos, muito duros pela perspectiva de não conseguir emprego na sua área e de ver todo o seu esforço ir por água abaixo, até que, em 2014, foi chamado finalmente para trabalhar no IPO de Lisboa. Quando assinou o contrato não podia estar mais feliz. Tinha conseguido o seu objectivo. Só lhe restava trabalhar.
É engraçado pensar que a Sara e o Bruno tiveram todas as hipóteses do mundo para se conhecerem na Faculdade. A Sara, sendo dois anos mais nova, entrou quando o Bruno estava no terceiro ano da faculdade e ele podia tê-la praxado. O que valeu à Sara foi que o Bruno, no terceiro ano, já não estava interessado nas praxes devido ao calor imenso que o traje lhe provocava e o nosso Bruno odeia sofrer de calor. Praxou sempre que pôde no seu segundo ano, mas no terceiro deu a vez aos de segundo ano. E é por isso que eles não se lembram um do outro nos tempos da Faculdade. Apesar de, na primeira semana de praxes, ele ainda ter estado presente a praxar, mas como a Sara só entrou na segunda fase, acabou por não ser praxada na Radioterapia nessa semana. E quando ele deixou de praxar, foi quando a Sara já podia ser praxada. Desencontraram-se.
No fundo, eles até agradecem por esse facto. Foi mais giro assim: saberem, agora, que estiveram tão perto de se conhecerem mas sem nunca realmente tal acontecer. Dá toda aquela ideia de destino e de como estavam destinados a conhecerem-se. Como não o fizeram nas praxes, o destino fez questão de colocar a Sara a estagiar no IPO de Lisboa no verão de 2014, altura em que o Bruno começou lá a trabalhar, com um ano de estágio profissional antes de assinar efectivamente um contrato sem termo um ano depois, curiosamente três semanas antes da Sara ser contratada. Mas já lá vamos.
Uma das primeiras pessoas que o Bruno viu e com quem contactou em contexto profissional foi precisamente a Sara. Ele tinha sido destacado para a TC na sua primeira semana e quem lá estava também a estagiar pela Faculdade? A sua futura esposa, pois claro. É engraçado pensar que a Sarita estava sentada ao canto, sozinha, quando o Bruno entrou e se apresentaram. Nisto, aconteceu uma coisa engraçada que ambos nunca se esquecem: o telefone do serviço começou a tocar. Além do Bruno não gostar mito de falar ao telefone, estava a trabalhar há meros minutos e não conhecia ninguém e não sabia os procedimentos do serviço. A Sara ficou a olhar para ele e o Bruno olhou para ela, na esperança de que ela atendesse por estar li há algumas semanas e saber mais que ele. Mas a Sarita não foi de modas e disse:
- Atende tu, tu é que trabalhas aqui.
O Bruno só conseguiu sorrir, abanar a cabeça e suspirar bem fundo antes de atender. E foi assim que se conheceram. Com a Sara a tramá-lo. Belo início! Só podia acabar em casamento, não acham?
Nas semanas seguintes acabaram por se ver mais algumas vezes, mas sem nada de assinalar, uma vez que o Bruno estava focado em assimilar tudo o que podia e a Sarita fazia o mesmo para o seu Estágio. Um ano depois, ela e mais seis colegas foram contratados pelo IPO e juntaram-se oficialmente à equipa. Não foi surpresa nenhuma, para o Bruno, ver a Sarita no lote dos que entraram, até porque ele já estava farto de ouvir o nome dela, uma vez que perante a iminente contratação de mais colegas, o nome dela era sempre o primeiro que todos os que trabalhavam no serviço diziam quando referiam os melhores estagiários que por ali passaram e que gostavam de ter como colegas.
Na altura o Bruno trabalhava na Unidade 6 e foi para aí que a Sara foi inicialmente, após uma ou duas semanas a trocar de Unidade. Foi aí que se começaram a conhecer mas só mais tarde, mais perto do final de 2015, é que se começaram a conhecer a sério porque tinham ambos acabado de sair de uma relação e sentiram apoio um no outro. A partir daí, foi sempre a subir até ao dia de hoje. E a subida jamais irá parar.
Por isso, a Radioterapia foi de extrema importância para a vida do nosso casal. Toda esta festa só foi possível graças ao facto de ambos terem entrado no mesmo curso.
Em última análise, podemos dizer que a morte da mãe do Bruno foi devastadora, mas foi também o que possibilitou que ambos entrassem na vida um do outro e a tornassem infinitamente melhor. O Bruno só lamenta que a sua mãe nunca conheça a sua esposa, pois tem a certeza de que elas se iriam adorar mutuamente pela forma carinhosa com que a mãe dela tratava as pessoas que gostava.
Além da importância que a Radioterapia teve para a vida pessoal do nosso casal, é também uma enorme paixão para ambos, pois tanto a Sara como o Bruno adoram o que fazem e adoram tratar pessoas com cancro. Sentem-se úteis, sentem que estão a ajudar os doentes numa guerra muito difícil e sentem que fazem a diferença. Como uma doente uma vez disse: “nós, os doentes, entramos aqui muito pequeninos, de cabeça baixa, mas vocês tornam-nos grandes e ajudam-nos a levantar a cabeça”.
É para isto que eles trabalham.
E vocês, como chegaram onde chegaram na vossa vida? Também têm coincidências engraçadas que tenha piada relembrar?
Eu vou-me calar já, senão vocês vão fazer queixa do vosso anfitrião à Sara e ao Bruno e depois não me pagam. Desculpem se me alonguei, mas esta é realmente das paixões mais importantes na vida dos nossos recém-casados.
Espero que se divirtam e que sejam felizes!

SARA & BRUNO
01.06.2019

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